quinta-feira, 29 de abril de 2010

Uma mulher na cidade!


E na delicadeza de cada madrugada que passa, deixo-me escorrer pelas horas e luas, a solidão acompanha-me como se de um vinho tinto seco se tratasse, fumar faz parte dos verbos que pratico, meditar e por vezes chorar sobre mim mesma decorre na ordem natural da atmosfera de que me sirvo em todas essas madrugadas!
As saudades de tudo o que me pertence assombram-me, quando recordo feliz os sorrisos trocados, os beijos dados, os abraços dedicados, as palavras mais singelas, os vícios mais ousados, as experiências mais viscerais, as provas passadas, os aprendizados, as promessas, as concretizações, os contos de todos os finais felizes e infelizes que regam a minha vida!
Agarro-me a todas estas madrugadas com a certeza de que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena" que cada lágrima que me cai vale e valerá por toda a concretização de mulher e artista que me sinto quando o sol volta a nascer atrás da massa de betão que sufoca São Paulo, e mesmo no meio de tanta massa cinzenta, consigo florir com o sol, como se de uma jasmim me tratasse!
"Agarro a madrugada
como se fosse uma criança,
uma roseira entrelaçada,
uma videira de esperança.
Tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem, por força da vontade,
de trabalhar nunca se cansa.
Vou pela rua desta lua
que no meu Tejo acendo cedo,
vou por Lisboa, maré nua
que desagua no Rossio.
Eu sou "uma mulher" da cidade
que manhã cedo acorda e canta,
e, por amar a liberdade,
com a cidade se levanta.
Vou pela estrada deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresce na vela da canoa.
Sou a gaivota que derrota
tudo o mau tempo no mar alto.
Eu sou " a mulher" que transporta
a maré povo em sobressalto.
E quando agarro a madrugada,
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada,
um malmequer azul na cor,
o malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém,
o malmequer desta cidade
que me quer bem, que me quer bem.
Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também,
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem,
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis, que me quer bem."

Ary dos Santos, adaptado por mim à mulher da cidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário